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Como um peixe fora d'água

Como pode o peixo vivo
Viver fora da água fria
Como pode o peixe vivo
Viver fora da água fria

Como poderei viver
Como poderei viver
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia
Sem a tua, sem a tua
Sem a tua companhia


foto: like a fish out of water, por colodio, no flickr

Há alguns dias, talvez semanas, venho me debatendo com este sentimento. Achei que seria interessante escrever sobre isso, já que a vida de um imigrante nao é só flores, muito pelo contrário, é bem dificil.

Sem dúvida, não posso negar que tudo que já conquistamos aqui foram grandes realizações. Quando eu páro pra pensar na época em que estavamos apenas esperando a tal carta do Consulado, o desejo enorme que tinhamos de chegar aqui e recomeçar a nossa vida, realmente percebo que já realizamos muitas coisas, e estou feliz por isso.

Por outro lado, não dá ignorar a intensa carga emocional que uma mudança deste porte apresenta. Acho que só agora, depois de estar relativamente "instalada", é que começo a sentir as verdadeiras mudanças. É quando esta começando a cair a minha ficha de que aqui é o lugar onde vou morar pelos próximos anos, muito provavelmente pelo resto da vida.

Esse sentimento de peixe fora d'água me bateu mais forte na semana passada, quando comecei a trabalhar. Só pra dar um exemplo, eu tenho ficado irritada por ter que falar inglês. Pode parecer ridículo, e talvez seja mesmo. Mas me dá um nervoso ter que falar em inglês o tempo todo. Quando viro pra alguém pra perguntar alguma coisa, tem que ser inglês. Até mesmo os termos técnicos que eles usam, eu não sei direito, e tenho que aprender. É um esforco mental o dia inteiro. A cabeça fica literalmente cansada e tem horas que só da vontade de gritar em português e perguntar se alguém me entende. De repente o que era legal agora não é mais. Eu, que me julgava tão fluente, fico engasgada e tropeçando na hora de falar. Eu só queria poder falar a minha língua e ser entendida.

A cultura da empresa é totalmente diferente. Tudo bem, talvez eu tivesse o mesmo estranhamento se tivesse mudado de emprego no Brasil. E espero que seja somente uma fase de adaptação mesmo.

Tem coisas que nem eu sei explicar como sinto. De repente a saudade da família é maior, e eu já conto nos dedos os dias que faltam pra dezembro chegar (meus pais vêm nos visitar). Nao é fácil.

Apesar de tudo, nao estou infeliz. Eu estou feliz, como já disse, pois tudo isso está sendo uma grande realização. Porém, tem as partes ruins sim, e essa fase de adaptação é bem chatinha. Eu sabia que era difícil, mas você conhece aquele ditado "fácil falar, difícil fazer"? É assim mesmo... A gente só descobre como é difícil quando passa pela situação. Eu tenho certeza de que essa é apenas uma fase. Não é nada legal se sentir deslocado no mundo. Espero um dia poder me sentir "em casa", como o Gold diz estar se sentindo, sete meses depois de chegar aqui.


PS: Pra quem é meu leitor no Simples Assim, o site ainda está fora do ar. Eu já não sei mais o que fazer pra ir atrás do meu suporte! Tô só esperando o site voltar pra migrar de servidores.

Comentários

Anônimo disse…
deve ser complicado mesmo, mas fé que essa coisa ai passa ;-)
Anônimo disse…
Ana Paula pode ter certeza ... isso que você está sentindo vai passar. É muito bom lermos essas dificuldades de um imigrante que nos abre os olhos e o coração.
O Ser Humano tem uma expectativa de adaptação que leva 3 anos! Dê essa oportunidade à vocês. Nesses momentos difíceis saia e vá à um cinema ou lugar hiper divertido !
Dias muito melhores virão !
Solange
Anônimo disse…
Puxa Ana...
Imagino que realmente seja muuuuiiiito difícil estar longe das pessoas que gostamos.
Há 7 anos atrás vim do interior (Passo Fundo) pra capital (Porto Alegre) e olhe... derramei algumas lágrimas - hehehe. E isso que estava apenas 300 kms de distância da minha família (imagino vc...) mas pra quem jamais imaginou sair da barra da saia da mamãe, foi desesperador - hahaha. Ainda hoje, qdo passo o final de semana pra lá...venho com o coração partido. Nesses momentos tento enumerar as conquistas que tive por aqui...financeira, emocional, profissional... E é nelas que temos que nos apegar pra levantar a cabeça e seguir adiante.
Conte sim os dias pra tua família chegar aí... Enquanto isso, tente amenizar essa saudade pela internet, telefone,... e se algum momento as lágrimas teimarem em surgir... tudo bem, dizem que elas purificam a nossa alma! Hehehe
Beijão amiga!
Estamos com vc!

Elisângela.
Anônimo disse…
Oi Ana.... isso vai passar... pois ja passei por isso na minha vida e provavelmente irei passar de novo no ano que vem..... não sei se vai servir de consolo... mas na minha primeira vez ate o alfabeto era diferente

tudo de bom

Jung
Anônimo disse…
Calma ! tudo vai passar , como vc mesmo dia é fase de adaptação mesmo , imagino como deve ser estressante a situação. Mudando de assunto, o que houve com o Simples Assim ? migre mesmo logo, viu ? e Laura como está ? mil beijos
Anônimo disse…
Oi Ana,

Até eu que ando meio sumida dos comentários em blogs, não poderia deixar de comentar sobre esse post pra dizer que compartilho completamente da sua opinião. E não que eu queira te desanimar, mas depois de 6 meses ainda tenho um pouco da sensação de peixe fora d'água por aqui.
É realmente desgastante ter que se expressar em inglês o dia todo. Tudo demora, até escrever um e-mail demora... Claro que já estou MUITO mais confortável do que quando comecei, mas sempre tem algo que me "pega", um termo novo, uma pergunta que vc não tem idéia do que seja, etc. O pior de tudo isso, na minha opinião, é vc não conseguir demonstrar o seu potencial completo, mesmo que vc faça um bom trabalho, e até surpreenda as pessoas, vc sabe que poderia fazer melhor, mas a tem a barreira da língua.
Bom, o que eu sei é que um dia isso vai passar... nos resta ter um pouco de paciência.

Bjos,
Luly.
Ângela Sun disse…
Oi Ana,

Nem cheguei aí ainda e já morro de medo desse sentimento pelo qual você está passando agora, sei uqe é muito difícil e não será nada mole para mim, pois não sou fluente como você, mas acredito que é só mesmo uma fase e que logo, logo você estará adaptada e tudo correrá bem.
Beijos,
Ângela
Oi Ana Paula,
é bem interessante você ter falado sobre isso. Interessante e necessário. Para nós, que vamos pelo mesmo caminho, é bom ter esse testemunho. Eu já estava achando que era besteira me preocupar com a adaptação já que para "todo mundo" parecia ter sido tão fácil. rs É sempre bom estar preparado para tudo. Admiro bastante a sua família e tenho certeza de que as coisas vão se ajeitar. Tudo brota em campo que tem amor (parece que isso vocês têm de sobra).
Pede para o André aparecer mais pelo Destino. rs Ele também está se sentindo "fora d'água"?

Um abraço,
Carol
Mila e Arlei disse…
Oi, Ana Paula
Amei o seu post!
Você recebeu o meu email?
Abraços,
Mila
Erasmo disse…
Olá Ana Paula... concordo plenamente com você!

Comigo está acontecendo algo muito díficil...optei pelo Québec por preferir (tentar) falar em francês, mas meu primeiro emprego aqui é em ambiente anglófono :-(

Várias vezes me perguntaram: seu francês é melhor que o inglês? Confesso que não sei responder... agora imagine a confusão: pensar em português, traduzir para o francês, mudar para o inglês, chorar em português...hahaha

Grande abraço!
Ana Reis disse…
Puxa, deve ser barra mesmo. Aliás, tenho certeza. Estou a 100 km de SP e tb me senti assim *rs. Tenho certeza que vocês vão se adaptar, as coisas só tendem a melhorar. Quantas conquistas vcs já fizeram né?
Mil beijos
Peter e Susy disse…
Ana, e a Laura, como está? Cheguei há 20 dias, agora estou indo encontrar as meninas em Orlando, e voltamos todos juntos no final do mês. Com certeza é difícil, eu tive um dia que comecei a me sentir assim, mas por dorte tenho dois amigos aqui, saímos no domingo e fiquei bem mais tranquilo. Vamos ver se a gente se encontra um dia, pras meninas se conhecerem, amigos nesta fase são importantes!
Gilberto Carmona disse…
Ana, você não me conhece mas, de tanto ler o que você escreve, me sinto como se fôssemos amigos há muito tempo e, por isso, atrevo-me a dizer:
- Que manha é essa? Deixa de frescura!
Você já passou por muita coisa (grande!) e brigou contra tantos problemas que não é agora, na terra dos seus sonhos e trabalhando na sua área (que inveja boa!) que vai ficar "do-doi".
Além disso, mudança de emprego é essa coisa mesmo. Quando se sentir triste, vá até o banheiro e fique rindo um minuto (marcado no relógio) para o espelho. Sentimentos alegres geram a ação de sorrir mas médicos já comprovaram que a ação de sorrir também gera sentimentos alegres.
Lembre-se: VOCÊ PODE! VOCÊ JÁ FEZ E VOCÊ VAI FAZER MUITO MAIS!
Continue firme que sua luz é nosso farol.
Anônimo disse…
É complicado mesmo. Mas é nessas horas que entendemos (e percebemos) quão forte somos e quão firmes são nossas resoluções. 'Güenta firme, depois melhora! ;)
Anônimo disse…
Ana,
Você está se saindo muito bem. Não exija tanto de si mesma. Apenas observe as outras pessoas e tente adaptar-se da melhor maneira. Vai dar tudo certo. Muito bom esse horário flexível.
Muito sucesso e felicidade pra vocês!
beijo,menina
Anônimo disse…
Ana Paula
Parabéns pelo post!Pela coragem de relatar essa experiência e não esconder absolutamente nada,mesmo que isso custe aqueles comentários meio pessimistas.
Pois é, lendo o blog vejo que estamos na fase imediatamente anterior e vcs se lembram bem:da ansiedade,espera,dos sonhos... será que o melhor da festa é mesmo esperar por ela??Essa nossa mania de intolerância à pátria natal e supervalorização exterior que estamos sentindo muda quando estamos literalmente fora de casa??Saudade... compreendemos o real significado?
Filosofando,nada é de fato fácil,mas podemos tentar fazê-las mais simples,simples assim...(saudades dele!)enquanto isso vamos "filhosofar" e brincar com eles antes que cresçam.
Siga na luta com fé,estaremos daqui torcendo.Lembre-se: peixe não vive fora d'água mas vive em águas doces,salgadas,congeladas...
Bjos e boa semana para a família
Unknown disse…
Oi Ana,

Lembre-se que o "Tempo cura tudo". Sei que às vezes temos vontade de gritar, berrar, mandar todos para a pqp, mas com certeza esse sentimento vai passar e em pouco tempo voce vai se sentir bem melhor. Minha tia mora no Canadá há 25 anos e de vez em quando ela ainda "reclama" de algumas coisas, mas mesmo assim quando pergunto se ela está feliz, ela diz que sim, e que não volta mais.

Beijo,
Anônimo disse…
MUITA FORÇA! ESTE SENTIMENTO SERÁ PASSAGEIRO. A SEGURANÇA E O FUTURO DA FILHOTA COMPENSARÃO OS PERCALÇOS DO CAMINHO.

Torço por você, de coração...

Humberto
:= disse…
Eu já passei por essa dificuldade da língua qdo morei fora. Eu não conseguia comprar as coisas mais simples como pão e leite e às vezes dá a impressão de que as pessoas te entendem mas estão tirando uma com a sua cara, né? O bom disso tudo é que um dia passa.
Bjs
Ana Paula disse…
Pessoal, obrigada pelos comentários. A minha intenção quando escrevi o post foi não esconder as dificuldades que passamos na adaptação aqui. Porque é muito fácil a gente ler em todos os blogs as maravilhas que encontramos, mas também há os percalços... e eu queria passar justamente isso, que é tudo muito bom, mas tem um preço e tem uma fase longa de adaptação. Eu acho que vou escrever mais sobre isso depois...
Anônimo disse…
Olá Ana Paula,
Sempre que posso passo pelo seu blog e resolvi escrever.Realmente, isto que vc falou da mente ficar cansada pelo esforço de falar um outro idioma, eu já senti qdo viajei pra outros países...sei bme o que é isso e te entendo.por outro lado, acredito que esta seja uma fase passageira, já que vc está na adaptação do idioma.Isto tudo deve passar logo logo pois dia após dia vc está adquirindo fluencia.te desejo muito boa sorte aí, bola pra frente e parabens pelo emprego.
Gostei do seu blog e sempre que puder, vou comentar.
bjs
Andrea
Flávia disse…
Ana Paula,

Eu moro aqui há mais de 7 anos e até hoje não sinto que aqui é minha casa. Nunca dei entrada na cidadania canadense porque não me sinto canadense.

Nunca vou achar normal almoçar um sanduíche, ficar alguns dias sem tomar banho ou não ter ralo para lavar a cozinha (nem tem uma empregada para lavá-la).

Estou aqui, mas meu coração mora mesmo em Brasília. Ah, se o Marido Gringo não fosse gringo...

Beijinho,
Flávia.

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